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Vivemos atualmente em uma sociedade globalizada e de fácil acesso à internet nas principais cidades do Brasil, e às classes sociais mais privilegiadas. Portanto, uma forma de aprendizado é com o uso da internet, que atribui aos usuários a comodidade do acesso no conforto de suas casas. Nesse contexto, surgiram os influenciadores digitais, que produzem conteúdo para as redes sociais. O papel deles pode influenciar tanto negativamente quanto positivamente, dependendo dos valores que são compartilhados com seus públicos – afinal, eles moldam as opiniões e ações de seus seguidores e criam tendências. Um dos pontos positivos, é que eles podem ajudar a ampliar a visibilidade de grupos ou causas, dando voz a opiniões e perspectivas que foram ignoradas anteriormente.
É nesse contexto, que os criadores de conteúdo abordados neste texto, diluem o pensamento que os colonizadores europeus estabeleceram na sociedade brasileira, desde sua exploração e colonização do país. Isso acontece através da divulgação de causas, ativistas, e conteúdos informativos que procuram fugir de estereótipos, e fazer o público questionar o senso comum. É importante lembrar que o assunto abordado pelos “influencers” não é restrito à militância – e nem deveria, pois as pessoas possuem vários interesses e não são definidas por suas características.
O “youtuber” indígena Wari’u, é um exemplo de criador de conteúdo que faz a diferença, pois ele traz voz para as causas dos povos originários e fala em seu canal do YouTube sobre sua vivência, preservação ambiental e preconceitos sobre o tema. Através da sua influência e da comunicação, ele educa e amplia a voz indígena.

Outro espaço de visibilidade e ensino foram as exposições de arte da última Bienal de Artes de São Paulo, “Faz escuro mas eu canto”, edição 34, que aconteceu em 2021 – o tema escolhido foi “a importância da arte em tempos sombrios”, com alusão ao governo de Bolsonaro e à pandemia. A cada edição, a instituição escolhe uma diversidade para ser abordada no tema da exposição, e essa bateu recorde de artistas indígenas presentes com suas obras. Contando com cinco brasileiros, e quatro de outros países. Sendo eles dos Estados Unidos, Groenlândia, Chile e Colômbia.
Parece pouco, mas configura uma grande evolução, que se soma à preocupação da equipe de curadoria, liderada pelo crítico e curador independente Jacopo Crivelli Visconti, de manter e ampliar a equidade de gênero e racial, além de dar espaço às causas LGBTQIAPN+ e de outros grupos minorizados. Os artistas presentes foram Abel Rodriguez, Daiara Tukano, Gustavo Caboco, Jaider Esbell, Jaune Quick-to-See Smith, Pia Arke, Sebastián Calfuqueo, Sueli Maxakali e Uýra.

@a.pigosso; Gustavo Caboco/ foto de @chadunt; Jaider Esbell/ foto de @daiaratukano; Jaune Quick-too-See
Smith/ foto de Ungelbah Dávila Shivers; Pia Arke/ foto reprodução; Sebatián Calfuqueo/ foto de
@whitney.legge; Sueli Maxakali/ foto de reprodução canal CURA Circuito Urbano de Arte; Uýra/ foto
reprodução @uyrasodoma – Vista das obras na 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de
São Paulo.
Na música e na política também existem espaços que estão sendo ocupados pela resistência indígena brasileira – tiramos como exemplo a rapper e atriz lésbica, Katú Mirim, que utiliza do rap e rock para falar sobre sua sexualidade e reconta a história da colonização pela ótica indígena. Além dela, a Kaê Guajajara também se destaca, utilizando do hip-hop, de instrumentos tradicionais e elementos de sua língua materna, Ze’egete, para fazer música sobre a realidade dos povos indígenas urbanizados e o apagamento de suas identidades.
Na política, quem está em evidência é a Sônia Guajajara, que foi nomeada Ministra dos Povos Indígenas pelo governo de Lula. É filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Formou-se em Letras e em Enfermagem, e é especialista em Educação Especial pela Universidade Estadual do Maranhão. Recebeu em 2015 a Ordem do Mérito Cultural, e em 2022 foi considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.
Vale a pena acompanhar também a Erika Hilton, do partido PSOL, que se tornou a mulher mais bem votada em todo o Brasil. A parlamentar é a primeira mulher trans eleita para a Câmara Municipal paulistana em 2020. Em 2022, tornou- se a primeira mulher trans eleita a deputada federal e ficou entre as dez melhores votações das eleições de 2022. Além de se declarar como trans e negra, a deputada ainda se afirma como travesti – que não é sinônimo de trans: é uma outra identidade que possui um forte cunho político, pois representa a resistência contra a opressão e a marginalização. Ela mesma já contou que foi expulsa de casa quando adolescente e precisou viver da prostituição – ela fala bastante sobre políticas para essa população na internet e fora dela.
No YouTube existem outras pessoas que trazem conteúdo de qualidade sobre outras causas sociais, como é o caso da Maíra Medeiros: uma youtuber gorda que traz em seu canal um quadro chamado “Perguntas que fazem para…”. Nesse programa, ela traz diversas pessoas para responder preconceitos em forma de perguntas sobre suas vidas, sendo elas LGBTQIAPN+, mulheres gordas, solteiras, grávidas, indígenas, bruxas, cientistas, nordestinas, professoras, etc. – ela inclusive entrevistou o já citado influenciador indígena Wari’u em um destes episódios. Além disso, Maíra produz conteúdo sobre gordofobia, empoderamento, feminismo e críticas sobre assuntos polêmicos que permeiam a sociedade.
De forma resumida, existem outras celebridades que vale a pena acompanhar – Christian Gonzatti é um dos maiores pesquisadores brasileiros de cultura pop e diversidade, doutor em comunicação; ele usa da sua página nas redes, chamada Diversidade Nerd, como plataforma de ensino sobre pautas de gênero, sexualidade e etnias através de filmes, séries, livros e quadrinhos. Já a Penelopy Jean, é uma artista que usa da arte drag queen para falar sobre este universo e divulgar seu trabalho como maquiador e dançarino. Também vale destaque a Lorena Eltz, que, por problemas de saúde, usa bolsa de colostomia e fala sobre sua vivência e acessibilidade nos lugares em que frequenta.

reprodução Abimael Salinas; Sônia Guajajara/ foto de @kerioberly; Erika Hilton/ foto de @eusouisabellearaujo;
Maíra Medeiros/ foto reprodução Instagram; Christian Gonzatti/ foto reprodução Instagram; Penelopy Jean/
foto reprodução Instagram; Lorena Eltz/ foto reprodução Instagram.
Existem, portanto, os influenciadores digitais que disseminam discursos de ódio e os que propagam informações coesas com a Declaração dos Direitos Humanos. Apesar destes quererem mudar o mundo para melhor, eles não podem falar por todos os movimentos dos quais levantam bandeira, pois existem diferentes vivências e maneiras de se integrar em grupos sociais. Mas, com suas visões de mundo – por serem membros de minorias e pela possibilidade de trazer pessoas das mesmas causas ou de outras, como convidados em parcerias na internet -, esses agentes ajudam a propagar o pensamento antropofágico e, portanto, a lutar contra o sistema que vai contra a existência de qualquer pessoa que esteja fora dos padrões e das normas sociais.
Autor(es)
Jornalista formada pela ESPM São Paulo, tem 24 anos, virginiana. Apaixonada por cultura pop, audiovisual e por escrita. Ativista de causas de direitos humanos, produziu como trabalho de conclusão de curso, um podcast sobre violência contra a mulher no Brasil. No qual, conta com relatos de vítimas e de especialistas em diferentes áreas. Vozes Silenciadas: Vulnerabilidade Feminina, pode ser escutado em várias plataformas, o site disponibiliza todas elas: https://vozessilenciadasvf.wixsite.com/my-site?fbclid=PAAaaLcdp-fd-n0Z37gcF6jXtz32-86xTa7j2c5fMmRLIcXdA576dwVCkobLY