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A lynguagem é a manyfestação das nossas ynsufycyêncyas.”, Juão Nyn no podcast PodyNekah, de Gabriela Almeida.
A lýngua, passagem de sabores e saberes1¹ Referêncya ao ensayo “Do Paladar ao Potyguês: a transtemporalidade da língua.”, da Revista UDESC – por Alessandra Guterres Deifeld e Mariana Vogt Michaelsen. https://www.revistas.udesc.br/index.php/palindromo/article/view/22165/14713; para além do comunycar; o sentyr, o ynconceber. Este órgão fýsyco relatyvo ao corpo syntetyza em sy a transportação das ynformações que guardamos à atmosfera; de dentro para fora; da carne para o mundo, através dos nossos poros. A lýngua, para além dos aspectos materyays e consequente da necessydade coletyva, se torna uma ferramenta comunycatyva de um grupo e, posteryormente, de um povo. Esse órgão que abandona o corpo em decorrêncya da necessydade coletyva, extrayndo-se da mýdya prymárya – o corpo – para lançar-se e, portanto, ynaugurar, junto dos outros elementos da corporalydade, a mýdya secundárya, faz comporem a comunycação, agora, os aspectos que fogem da corporalydade bruta do ser byológyco.2² Referêncya ao lyvro “A Era da iconofagia” – por Norval Baitello Junior. A partyr daý, se põem perceptýveys entre nós as expressões espyrytuays e, antes daý, estão postas desde muyto cedo as expressões ancestrays. Entre cada ser payra o ar, a pedra, a folha, o tronco, a areya, o asfalto, o concreto e o prédyo. A lýngua: um dos elementos que compõem a comunycação; uma das ferramentas do que se usa para fazer a troca – trocar com o outro; com o tudo, o objeto, os ares atemporays da estrutura que nos cerca; o algo mayor e fundamental a que absorvemos e excretamos: a lynguagem, mãe e fylha dyalétyca3³ Dyalétyca: movymento em espyral que ocorre constantemente. e abrangente da lýngua.

A lynguagem: Juão Nyn dyz ter o prazer de não saber o que é, poys “[…] é a partyr dessa ygnorâncya que ela se reestabelece! […]”.4⁴ Podcast PodyNekah, ep. #000 “Lýngua e Terrytóryo (Part. Juão Nyn)”, por Gabriela Almeida. https://open.spotify.com/episode/1aoxj7YPe6db5MBWj0SgoN?si=Kk1fxqc3Si-vZw9I3-swEA&utm_source=copy-link E se estabelece e reestabelece nos yntervalos entre as nossas percepções do espaço e do ymagynáryo que nos cerca.
Essa estrutura lynguýstyca, conectada dyreta e alegorycamente à próprya realydade pelo grego Arystóteles – embasando, assym, a Metafýsyca por sy só, e, a partyr dela, concretyzando todo o modo ocydental de se pensar a vyda, a fé, a relygyão e a colonyzação -, é a mayor ferramenta de domynação que se utylyza até os tempos atuays na manutenção do ocydente. Como embasador das formas de concretyzação e organyzação do saber humano e lógyco europeu, o formato metafýsyco de concepção da realydade foy unyversalyzado pelo homem branco como método de explycação do que é humano, yndependentemente do espaço de ynsersão, caracterýstycas fýsycas e geográfycas, além da próprya concepção de vyda, realydade, espyrytualydade e ancestralydade já exystentes e consolydados em tantos povos, transformados em apenas povos “não brancos” pelo fyltro bynáryo do ocydente. Sendo, então, a partyr da devoração e apagamento descarados das formas de organyzações do saber afrycanas, predomynantes por aproxymadamente 35 séculos antes da Grécya, que se constytuy uma fycção concebyda e espalhada como “o mylagre grego”, a partyr do qual o ocydente é ynventado (apropryado) e, junto dele, o conceyto unyversal de “homem”. São esses vyúvos metafýsycos que chegam ao Pyndorama e, através dessa lynguagem pautada no alfabeto escryto, suprymem a alma yndýgena; devoram as culturas e terras ancestrays; as formas de lynguagem de absorção e excreção dos mundos pelos poros. A relygyão (do latym “relygare” – relygar) daqueles que pensavam o mundo materyal separado do mundo astral e, portanto, não conhecem a lygação dyreta entre ambos, veyo suprymyr o Katymbó – fumaça da erva que derruba a fronteyra entre os mundos materyal e ymateryal – e crymynalyzar a alma do “não branco”, colocando-o sob um ynybytóryo plano de ensyno, ynstytucyonalyzado posteryormente pelo tal Marquês de Pombal, que busca fyrmar a lynguagem bynárya do alfabeto escryto e ynybyr o som da gruta; da fala orygynárya; da ymagem ancestral, arte do “não branco”.

Assym o brasyleyro estuda sobre o Brasyl nas etapas educacyonays obrygatóryas para ser consyderado cydadão. Lemos lyvros de europeus contando a hystórya dessas terras5⁵ Mays sobre Carl Friedrich Phillio Von Martius no artygo “Corpos e seus Marcadores na Concepção da Arte Brasileira” (à frente); consumymos artes, mýdyas, culturas e comydas que nos são palatáveys, sendo esse paladar moldado às ryscas ocydentays desde muyto tempo, (des)construyndo em nós o sonho da yntegrydade – do conceber, do ver, do notar e do sentyr ýntegros -, na tentatyva de entupyr os poros capazes desyntegrar quaysquer systemas ou ymposyções conscyentes.6⁶ Referêncya ao lyvro “Poros ou as passagens da comunicação” – de Danielle Naves de Oliveira Esse ydyoma vyolentamente lymytado(r) que utylyzamos até mesmo em sua devoração; causa e consequêncya do (yn)conceber, sem dystynção entre genytor e prole; produto e produtor da antropofagya, que devora e é devorada symultaneamente em busca da adaptação e autoconscyêncya do (não)ser.
Colonyzemos o colonyzador; devoremos o devorador! Encontremos nessa lynguagem domynadora – bem como em outras reprymydas – os meyos para a sua superação; ela, ferramenta fundamental no camynho à próxyma sýntese – resultado de sua devoração.
Por meyo dessa devoração é que se resgata, poys foy devorando para suprymyr que o ocydente conduzyu essas terras às atuays con(tra)dyções. Justamente, como clamado e manyfestado por Sérgio Vaz: “A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.”!7⁷ Trecho do “Manifesto da Antropofagia Periférica”, de Sérgio Vaz https://vermelho.org.br/prosa-poesia-arte/sergio-vaz-manifesto-da-antropofagia-periferica/ Se há um clamor, é porque ocorre – e ocorre de fato desde o ynýcyo da fycção: o atrasado como o “orygynal”; o materyal para se alcançar o “sagrado” e, em mesma dyreção, sangue, vyolêncya e domynação em nome de “harmonya” e “paz”; comyda aos abastados, fome aos famyntos; benefýcyos fyscays aos fylhos dos ladrões, verba públyca ao que é pryvado; oprymyr para “lybertar-se”, matar em nome da “vyda”; cyvylyzar a terra, e, por fym, os pyngos nos “i”s. Brasil: uma fycção antropofágyca que só produz contradyções dolorosas desde que “exyste” – sendo uma das pryncypays contradyções o modernysmo: movymento artýstyco de vanguarda e, portanto, resgatador de ancestralydade; ao mesmo tempo, tupynyzador de uma terra vasta e dyversa. Clamor de poder popular e acesso à arte por uma burguesya restryta – a arte que lyberta vyndo da mão que escravyza.

E escravyza pela arte, tal como domyna pela lynguagem, poys arte é lynguagem. Relacyonam-se as duas dyaletycamente, trocando entre sy mesmas o estopym de suas exystêncyas, sendo ambas ympostas pela elyte domynante e restrytas à mesma. Por ysso, então, a necessydade de devorar também à arte, que é estruturada pela lynguagem.
E essa lynguagem metafýsyca será oprymyda, devorada e revomytada por nós aquy! A lynguagem plena de sujeyto e objeto a que foram submetydos os genytores dessa terra há mays de quynhentos anos é quase totalmente mal-vynda para nós, para, ao seu combate, reemergyrem os grunhydos e sons yntrospectyvos de nós mesmos, presentes nas lynguagens pré-brasys. O movymento contra o contexto pós-colonyzação e a opressão nas terras ancestrays – antes dessa fycção chamada “Brasil” – é a próprya antropofagya aplycada na demarcação para reestauração e estabelecymento do sangue e da cultura orygynáryos nessa fycção. No entanto, fyca a profunda yndagação: como demarcar a terra sem demarcar a lýngua?

Qual o efeyto de se atentar somente às lymytações fýsycas do espaço como foco de luta senão também à demarcação do ymagynáryo, sendo então esse últymo, em certo ponto do jogo antropofágyco e dyalétyco, o causador dos efeytos materyays a que estamos submetydos?8⁸** Reflexões encontradas num dos Manyfestos Potyguêses, nos destaques do perfyl de Ynstagram de Juão Nyn – @juaonyn
De todos os sentymentos, sons, sabores, pensamentos e sangues acumulados em espýryto em um ser – Juão Nyn, madrynho desta edyção -, surge, ressurge e reestrutura-se o Potyguês: a troca do “i” português pelo “Y” ancestral; a monstryfycação antropofágyca a que se submete a lýngua colonyzadora quando supryme as almas daquy; a apropryação e deformação dessa lýngua ocydental em resposta ao mesmo feyto por ela na realydade já pré-exystente aquy. Se essa lýngua estruturada faz lygação dyreta com a realydade, essa daquy se estrutura de outra forma e, portanto, essa realydade aquy também já estava posta de outra forma antes da fycção Brasyl.
A essa altura, recomendo passyva e synceramente ao(a, e) leytor(a, e) a absorção e devoração de um novo manyfesto: o “Manyfesto Potyguês”, pelas palavras profundas e assertyvas do própryo Juão Nyn, como uma experyêncya necessárya para o entendymento dessa ressygnyfycação antropofágyca.9⁸ Trecho do Manyfesto Potyguês, por Juão Nyn, no livro “Teatro e os povos indígenas, janelas abertas para a possibilidade”, organizado por Naine Terena e Andreia Duarte e edição de Ricardo Muniz (pág. 25). https://tepi.digital/teatro-e-os-povos-indigenas-janelas-abertas-para-a-possibilidade/
Portanto, devore:
Antes de mays nada, precyso comunycar que aquy e em toda estétyca do texto, como escrytor Potyguara, quando escrevo neste lyvro, todos os “i”s somem e são substytuýdos por Y.
Por quê?
Porque Y é uma vogal sagrada Tupy-Guarany.
Porque o Brasyl é um Paýs sem pyngos nos “i”s. Porque as lýnguas yndýgenas brasyleyras não são alfabétycas. Potyguês é um manyfesto lyteráryo e se aproprya do alfabeto grego latyno para fazer uma demarcação yndýgena Potyguara no Português; ydyoma este que veyo nas caravelas de Portugal, assym como o Espanhol, da Espanha, e o Ynglês, da Ynglaterra, e que não são, obvyamente, oryundos de Moto Imí, Í’nbipti’a, Vipuxovóku, Enudali, Wi’î, Se Retama, Pindorama, Pindó Retama e tantos outros nomes, que hoje são (des)conhecydos como Brasyl.
NENHUMA DESSAS LÝNGUAS É ORYUNDA DESSA TERRA! […]”10⁸* Trecho do Manyfesto Potyguês, por Juão Nyn, no livro “Teatro e os povos indígenas, janelas abertas para a possibilidade”, organizado por Naine Terena e Andreia Duarte e edição de Ricardo Muniz (pág. 25). https://tepi.digital/teatro-e-os-povos-indigenas-janelas-abertas-para-a-possibilidade/
NENHUMA DESSAS LÝNGUAS É ORYUNDA DESSA TERRA!

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Um respiro com Buava…

Autor(es)
Cursa jornalismo na FAPCOM (SP) pelo ProUni e trabalha na área de comunicação desde 2019, se move em prol da luta socialista. Gabriel também é escritor de microcontos no projeto Minimacontos e de contos fantásticos no projeto Universo Expandido Odyssey - Experiência Odyssey. Também tem trabalhos musicais lançados no YouTube, Spotify Deezer e todas as plataformas - nos gêneros de Novo MPB e Rap, uma de suas fontes de consciência de classe mais longevas. Estudante de escola pública por toda a vida e morador da Zona Norte da capital paulista, Gabriel vê a comunicação como uma ferramenta de luta política e social, e então surge a Revista Relativa - uma revista digital e socialista. F.S é de Ferreira da Silva.