Buava (@buavax)

O Rap Nacional no legado da Semana – Fundamento popular moderno

Entrevista com Luan Bacc

O Luan Fernandes é o Luan Bacc, mas o Luan Bacc não é o Luan Fernandes…”, Luan Bacc, 18; Rapper, Praia Grande – SP, Rapper da modernidade.

É após a morte de sua avó que Luan Bacc é criado como uma personalidade artística de Luan Fernandes que se expressa; Luan Bacc é a própria expressão de dores e feridas que o mundo causou a um jovem marginalizado. “[…] Antes, eu queria fazer trap; uma coisa muito mais comercial, pra ganhar um troco […] e aí eu comecei a colocar meus sentimentos nas letras e, assim, a me libertar dessas dores. […]”, e suas dores perduram de tempos atrás. Luan é outra vítima do apagamento da história indígena – ancestralidade herdada pela linhagem de seu pai, que está perdida no tempo, sendo o remetente de Luan Fernandes uma incógnita para si mesmo. “[…] Eu ainda tô me descobrindo muito, de dois anos pra cá, sobre política, questões raciais, sobre a estrutura capitalista; sobre mover o mundo dessa forma chata de morte, de fome […]”.

Foto de divulgação do álbum Maioridade Penal, de Luan Bacc.

Jovem pardo, embranquecido pela perspectiva eurocêntrica apossada do Brasil, mover esse mundo chato é um grande propósito ao rapper modernista, e o agente dessa movimentação colossal é o próprio rap. “[…] Eu ouço Rap, eu faço Rap; eu vivo o Rap! […]”, disse Luan Bacc quando perguntado sobre o gênero. O Rap, segundo Luan, “é uma realidade cantada [que] me ajuda a entender o mundo.”. “‘Mil Faces de um Homem Leal’, do Racionais, me fez conhecer o Marighella; eu comecei a ler o Manifesto Comunista por causa do Don L […]”. Embasado ainda por Galo de Luta, personalidade importante do movimento de Entregadores Antifascistas, e por Massive Ilegal Arts (M.I.A), pixador e ativista, Luan Bacc nos deixa claro que o movimento de resistência contra a exploração da população periférica, contra a eurocentricidade brasileira e contra uma história escrita por uma perspectiva estrangeira são parte fundamental do Rap. A luta está no Rap, e é pelo Rap que Luan Bacc se propõe a mover esse mundo chato. O Rap, então, compõe a Nova Antropofagia.

Abaporu, de Tarsila do Amaral.

“[…] a Semana de Arte de 1922 foi da elite contra a elite. […] mas, se quer falar de arte moderna no Brasil, tem que dialogar com pessoas pobres, periféricas e pretas! […]”, esclarece Luan, apontando o Rap como um dos principais meios de diálogo com o público periférico, que é a grande maioria de pessoas do Brasil. Luan Bacc reforça ainda o Rap como gênero já expandido no país, descentralizado do eixo sudestino: “[…] os artistas gringos vão fazer uma turnê no Brasil, mas não é no Brasil; é em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Tem que enxergar todas as regiões. […] no Norte tem Victor Xamã; Don L e Matuê no Nordeste; Caju e Castanha, do Repente; o mineiro Djonga.”, e concluiu a resposta dizendo que o artista underground “é como água, que só quer um espacinho pra entrar e se evacuar”.

O artista Luan Bacc, representando o Rap Nacional na nesta edição sobre os 101 anos e 101 dias do mito da Semana de Arte Moderna de 1922, busca, através da sua arte, não apenas curar, mas também ser curado. É quando podemos voltar ao início: o Rap é a expressão de dores; vômito do que fica entalado na mente e no peito de Luan. Por isso, é cura para si mesmo, acima de todas as intenções… o resto é consequência!

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Um respiro com Buava…

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Cursa jornalismo na FAPCOM (SP) pelo ProUni e trabalha na área de comunicação desde 2019, se move em prol da luta socialista. Gabriel também é escritor de microcontos no projeto Minimacontos e de contos fantásticos no projeto Universo Expandido Odyssey - Experiência Odyssey. Também tem trabalhos musicais lançados no YouTube, Spotify Deezer e todas as plataformas - nos gêneros de Novo MPB e Rap, uma de suas fontes de consciência de classe mais longevas. Estudante de escola pública por toda a vida e morador da Zona Norte da capital paulista, Gabriel vê a comunicação como uma ferramenta de luta política e social, e então surge a Revista Relativa - uma revista digital e socialista. F.S é de Ferreira da Silva.

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